Celso de Lemos possui um lema de vida que o caracteriza “se é para fazer, que se faça o melhor”.
Foi com esse espírito que ergueu, em Silgueiros, Viseu, a Mesa de Lemos, um restaurante que, desde que nasceu, quis ser apenas o melhor.
O dono da Abyss & Habidecor, uma marca que é um portento na área dos têxteis de luxo, compra em 1997 a propriedade onde nasceu a Quinta de Lemos, excelsa produtora do Dão, e, contíguo à adega, fez igualmente nascer o restaurante que estava fadado para o êxito.

Hoje, o Mesa de Lemos, comandado pelo afável e enorme anfitrião Diogo Rocha, já conquistou uma estrela Michelin, a única da região centro de Portugal.
Ontem, a convite da Patrícia Santos, amiga e enóloga de mão cheia, com um trabalho que é obrigatório seguir, aqui e em Espanha, fomos conhecer a nova Carta de Verão do restaurante, que também traz consigo um “vinho do Chef”, criado pelo enólogo Hugo Chaves, tendo por base o apego às raízes beirãs de Diogo. Criado a partir das castas Touriga Nacional e Tinta Roriz, é um tinto profundo, denso, com subtileza aromática floral, notas de tabaco seco e, sobretudo, uma frescura imensa, rara num vinho de 2006.

O novo Menú da Mesa de Lemos, segue um uma filosofia baseada na simplicidade dos produtos frescos sazonais, desta vez privilegiando um pouco mais a acidez nos pratos, o que torna a refeição um verdadeiro passeio de leveza, frescura e pungência de aromas e sabores.

Somos acolhidos com um sorbet de tomate verde, seguido de dois momentos, um primeiro dedicado à cenoura, com um gelado de cenoura roxa e bolo lêvedo, uma tartelette de cenoura, cenoura em pickle e cenoura assada com requeijão, continuando com um segundo momento onde pontifica o mexilhão, onde se elenca uma mousse de mexilhão e estufado ácido de couve lombarda, tártaro de mexilhão, mexilhão alimado, massada de mexilhão e um pastel de massa tenra de mexilhão.

Antes dos pratos principais, o amuse-bouche refrescante de enguia fumada com ervilhas e a entrada de línguas de bacalhau com caril e mostarda, e lagostim e beterraba.

Nos pratos principais, surgem os peixes: tamboril com molho de espumante, pêra abacate e courgette, e o magnífico Imperador com molho fragateiro, chouriço alentejano e pimentos de cebolada.

Nas carnes, um prato que já vem do passado e que leva em conta a sofisticação aliada às memórias da terra, o Cabrito com salada de pepino doce, maçã verde e batata. Na carta inclui-se ainda a Bochecha de porco alentejano estufada com vinho e boletos de veraneio.

Neste opíparo menú de degustação, surgem ainda um gelado de figo, creme de iogurte e gengibre para refrescar e limpar o palato, terminando-se com uma queijada de mirtilo, gelado de ameixa, entremeio de framboesa e curd de amora, incluindo-se também um pudim de hortelã, suspiro de morango e gelado de kiwi.

Os vinhos que acompanharam a refeição são todos oriundos da Quinta de Lemos. E, se a memória não me atraiçoa, passaram pela mesa 6 ou 7 vinhos, entre eles o espumante Geraldine, os brancos, os tintos, nos quais se inclui o “Vinho do Chef”, um super complexo Rosé de 2016 e, para o final, um outro Rosé encantador, mais jovem, frutado e fresco, e com uma acidez que nos viciou até ao final da noite.

Na verdade, se é para fazer bem, que se faça o melhor. E, aqui, nada é deixado ao acaso, demonstrando-se enorme segurança, solidez e consistência de uma cozinha que deslumbra e merece uma romaria religiosa, pelo menos, duas vezes por ano. Aos fiéis amantes da cozinha portuguesa de autor, vão comungar à Mesa de Lemos e, acreditem, é ali que verão a Luz.