A voracidade dos dias leva-nos, demasiadas vezes, a esquecer a essência daquilo que nos fez apaixonar pelo vinho. Se nos abstrairmos de tudo o que nos distrai, rapidamente conseguimos regressar à identidade, à raiz e aos vinhos que nos contam histórias e aos quais fazemos juras de eterno amor, aquele amor incondicional e sem reservas.

Pedro Martin, não sendo produtor, tinha os pés bem assentes na terra quando idealizou os vinhos que pretendeu criar. A eles unia-o o maior de todos os amores, o de um pai que projecta nos vinhos os mais intensos sentimentos, a maior de todas as dedicações, neles esculpindo o terno desabrochar da inocência dos primeiros anos.

O OM. (Oliver Martin), um branco da Bairrada, criado a partir das castas Arinto (85%) e Chardonnay (15%), lote escolhido pelo Pedro Martin  dentro dos melhores vinhos das Caves São João, pretendeu ser o espelho de um anjo cheio de candura e penetrantes olhos azuis. Na sua mente, o vinho teria que se assumir encantatório, sereno, suave e irresistível. E, a realidade imitou a inspiração, conseguindo o vinho traduzir tudo isso e, ainda, ir mais além, quase antecipando a mutação da candura numa energia viciante. A elegância do OM. é perceptível ainda antes de o colocarmos no nariz, pela forma lânguida com que se liberta da garrafa para o copo. No nariz, nota-se que houve ali um dedo de um sommelier “perfumista” tal é a precisão aromática revelada, a que se alia uma desafiante complexidade, como que a querer brincar com as nossas capacidade. Por ser um Bairrada de solos argilo calcários, quase a beijar o oceano, revela atlanticidade, frescura vibrante, salicórnia, citrinos, funcho e um inédito e subtil fumado borgonhês, indiciador de uma leve passagem por barrica de parte do lote. Na boca é a visão de uma roleta para um inveterado jogador – viciante! Um daqueles vinhos que nos faz querer mais, tal o prazer com que nos consome. De belíssima estrutura, enche-nos as papilas gustativas, untuoso, inicialmente delicado e de seguida enérgico e envolvente, sempre, sempre  a desafiar-nos.

Podia dizer que será um vinho para também guardar para apurar qualidades, mas, e porque apenas foram engarrafadas 1000 exemplares, prefiro aconselhar o imediato e intenso prazer do seu consumo, porque, vinhos destes, são para beber já, sem remorsos ou sentimentos de culpa.