De cor bastante concentrada, possuí uma riqueza aromática consistente onde a fruta se destaca num perfil clássico e elegante.
A Quinta da Côrte, ao contrário do que acontece com dezenas de outras propriedades do Douro, não é liderada por um britânico, mas por um francês. Philippe Austruy, proprietário de várias quintas em território francês e por todo o Mundo, adquiriu esta quinta em 2012, escolhendo-a não somente por razões de localização, qualidade dos solos e da matéria prima, mas sobretudo por uma razão de paixão, o que, à primeira vista, podia ser considerado estranho dada a aparente distanciamento da França em relação ao vinho do Porto.
Contudo, a história revela-nos que o amor dos franceses pelo vinho do Porto tem mais de dois séculos e está intimamente ligada à democratização da bebida que, até então, era um privilégio dos Lordes.
Na verdade, durante a Guerra Peninsular (1807-1814), houve um enamoramento ao primeiro trago pelas tropas de Napoleão que invadiram o território nacional. E a relação tomou tal intensidade, que as tropas francesas exigiram que o vinho do Porto começasse a fazer parte da ração. É também dessa época que as tropas aliadas, lideradas por Arthur Wellesley foram brindadas com o vinho do Porto, tónico que lhes tornava os dias mais sorridentes para as valorosas façanhas de batalha, destacando-se o papel da Real Companhia Velha, que forneceu 300 pipas às tropas estacionadas em Lamego.
Com o fim da guerra e o regresso das tropas a casa, o sentimento e o gosto pelo vinho do Porto também com eles viajou, tendo criado uma tradição assente numa forte exportação do néctar e uma democratização do seu consumo, não só entre os franceses, mas igualmente entre os britânicos.
Um dado curioso ocorre ainda no decurso da Guerra, em que, graças à incomensurável criatividade portuguesa, as exportações do vinho não cessaram. A habilidade conta-se em duas ou três linhas. Perante o domínio dos mares por parte dos franceses, o transporte do vinho fazia-se em navios portugueses, arvorando a bandeira de Knifhausen, um pequeno e quase desconhecido porto que foram descobrir na foz do Elba. Como todos desconheciam o que era o Knifhausen e a bandeira não figurava entre as proibidas pelos franceses e ingleses, o vinho do Porto continuou a chegar por essa via ao território britânico e, ardilosamente, também aos territórios franceses. Aparentemente, nem britânicos, nem franceses abriam demasiado os olhos já que ambos tinham a ganhar com estes furos nos bloqueio.
A relação apaixonada dos franceses com o Vinho do Porto criou, então, um casamento que se eterniza até aos dias de hoje.
O LBV 2015 da Quinta da Côrte é também fruto desse encanto que permite criar e colher a melhor matéria-prima para “construir” um Porto de eleição, em que os quentes solos xistosos, conjugados com os verões quentes e secos que permitem maturações perfeitas das castas tradicionais do Douro oriundas das vinhas velhas.
De cor bastante concentrada, possuí uma riqueza aromática consistente onde a fruta se destaca num perfil clássico e elegante. Frutos negras e um ligeiro especiado de pimenta. Na boca privilegia a macieza, não condescende na frescura, na fruta e nos taninos com finesse mas sem lhe retirar a forte personalidade e o estilo. É um vinho extremamente harmonioso, sem desequilíbrios, falhas ou arestas, o que o torna um companheiro perfeito para várias horas de deleite nesta época de confinamento. É, igualmente, uma bela opção de guarda. Contudo, sinceramente, em tempos de cólera, só me dá vontade de o apreciar, lentamente e até ver o fundo da garrafa.