Uma homenagem a Lopo de Freitas

As Caves do Solar de São Domingos iniciaram em 2000 o processo de vinificação de uvas regionais, próprias e adquiridas a alguns viticultores, devidamente acompanhadas ao longo do ciclo vegetativo. Dentro das várias castas regionais sempre destacaram a Baga, não só pela sua importância para a região, mas, sobretudo, porque faz parte da identidade da Bairrada.

A Baga, embora se julgue ser originária do Dão, terá vindo para a Bairrada  com a crise do oídio, em 1851,  por força da sua maior resistência a esta doença, quando comparada com as restantes castas. Desde essa data a sua plantação foi progressivamente aumentando até que, na década de 1960/70, já ocupava cerca de 90% do encepamento tinto da região. Na década de 1990/2000 foi-se procedendo gradualmente ao seu arranque, sendo substituída  por outras castas mais apetecíveis, mantendo-se sobretudo nas zonas onde ela ganha mais esplendor.

 

Eugénia Freitas

Não obstante a empresa ter orientado a produção das suas vinhas para a produção de base espumante, nunca desistiu da produção de vinhos de Baga ao nível dos melhores vinhos mundiais.  Foi com esse objetivo que se plantaram novas vinhas em diferentes solos, em diferentes porta-enxertos, material clonal, diferentes exposições solares, inclinações e compassos. Tudo numa base experimental para encontrar a excelência. Para além disso, foi igualmente percebido que teriam  que intervir um pouco mais na vinha de modo a controlar a produção e atingir uma melhor maturação das uvas. Por isso, e durante vários anos, também foram experimentadas diferentes intensidades de monda, para chegar ao equilíbrio perfeito.

César Almeida, responsável da viticultura

A viticultura…

A produção de uvas para a elaboração de um potencial grande vinho de Baga, exige a reunião de um conjunto fatores: boa exposição solar, vigor médio das plantas,  cachos com bagos pequenos, produção de 5-6 toneladas por hectare, desfolhas, orientação da vegetação, despampas e monda qualitativa de cachos, ausência de precipitação no final da maturação, e não menos importante, a vontade de arriscar e a mão de obra qualificada.

Durante mais de uma década houve um intensivo estudo do binómio casta/terroir para alcançar um vinho de qualidade irrepreensível e que ombreasse com os maiores e mais reputados vinhos nacionais.

António Rodrigues
António Rodrigues

E foi em  2016 que  todos os factores se alinharam para alcançar o propósito de produzir, pela primeira vez um vinho 100% Baga tal qual foi sonhado, sendo, igualmente, um vinho que homenageia Lopo de Freitas, o homem, o lider que durante mais de 4 décadas esteve à frente dos destinos das Caves, constituindo este vinho a imagem da paixão e dedicação que esta personagem incontornável da história do vinho da Bairrada colocou ao serviço da região.

A menção “Bairrada Clássico” coloca-o no patamar superior dos grandes vinhos da região, com características organolépticas irrepreensíveis, com um envelhecimento mínimo de 30 meses, dos quais 12 obrigatoriamente em garrafa.

 

Susana Pinho, a responsável da Enologia

A enologia…

Das várias parcelas de vinha Baga, foram selecionadas seis parcelas, as quais ao longo da campanha e em virtude do acompanhamento do ciclo vegetativo de cada uma, foram sendo rejeitadas por ausência de maturação ou devido ao tamanho dos bagos não ser o adequado, bem como a prova organoléptica e analise química dos bagos não ser a desejada.

As uvas para elaboração deste vinho são oriundas de São Lourenço do Bairro, de uma “single vineyard”, à qual se fez monda de 40% dos cachos, 4 semanas antes da vindima, a que se seguiu um rigoroso e diário acompanhamento do final da maturação. As uvas foram colhidas manualmente para caixas de 20Kg, com escolha rigorosa à chegada da adega. Procedeu-se ao desengace total das uvas com fermentação em lagar de inox durante 7 dias, a 26ºC, com submersão da manta 12 horas por dia. Após a fermentação alcoólica e malolática estagiou 18 meses em barricas novas de carvalho francês. Engarrafado em 2019, somando actualmente 16 meses em garrafa. estando pronto a consumir de imediato, possui, pelas suas características, uma aptidão para um envelhecimento nobre por mais de uma década.

Foram produzidas 3.086 garrafas de 0.75 L de capacidade e 237 garrafas de 1.5L

Alexandrino Amorim

A prova …

Aroma expressivo e elegante, com predominância de fruta vermelha madura, a uva confitada, especiarias, caruma, folha de tabaco, enigmático, num conjunto que cresce no copo sem nunca perder a frescura.

Muito aveludado na boca, de taninos maduros,  um porte cheio de nobreza, sempre elegante, com  uma aptidão gastronómica excepcional, uma acidez e equilíbrio irrepreensíveis. É e será um dos maiores vinhos que a Bairrada já viu nascer