“Foi o tempo que perdi com a minha rosa que a fez tão importante”, escrevia Saint-Exupéry na sua obra-prima “O Principezinho”.
Tal como na obra, a criação dos vinhos que maior importância possuem para o produtor, são aqueles em o que passar do tempo e a dedicação que lhes é dada é mais longa e duradoura, permitindo a criação de laços de proximidade e afeição, elemento emocional que, teoricamente, só pode contribuir para melhorar a obra.
Sendo a pressa inimiga da perfeição, os vinhos criados por Joaquim Arnaud demoram o seu tempo a nascer, a crescer, a aperfeiçoar-se, antes de chegarem àqueles que terão o prazer de os abrir e prová-los num ritual que requer alguma solenidade. Sim, porque o vinho é um instrumento de um culto não dedicado a bárbaros que o consomem sem a liturgia que lhe deve estar associada.
A colheita de 2014 já lá vai, longínqua, tendo este ARUNDEL NUMBER FOUR TINTO 2014, com 13,0º vol., demorado quase 6 anos a encontrar aquele ponto de equilíbrio perfeito para se mostrar adulto no copo. Resultante de um blend de Alicante Bouschet, Syrah e Trincadeira, afirma-se com uma cor rubi aberta. No nariz transporta-nos para paisagens tórridas onde o sol é implacável, mostrando, apesar da evolução grandiosa na garrafa, as notas de fruta passa, especiarias, erva doce, folha seca de tabaco, sempre com uma sensação de planície quente a envolver todos os elementos. A presença da barrica mostra-se muito delicada, sendo apenas perceptível a sua presença para envolver os elementos aromáticos atrás descritos. Na boca é o néctar de Dionísio, vibrante, tanino bem apessoado, acidez imaculada, fruta convincente e madura, leve terroso, corpo possante e um final a perder de vista. É um vinho que da timidez inicial, faz exuberância e ao longo da prova vai, pouco a pouco, revelando-nos os seus segredos, sem nunca perder o seu foco de nos proporcionar o prazer religioso de comungar em adulação.
É um vinho enorme e com uma evolução de fazer corar.