Amada por uns, odiada por outros, a Fernão Pires, que em grande parte da Bairrada se designa por Maria Gomes, tem o condão de fugir do consenso, sem por isso deixar de ser uma das mais importantes uvas portuguesas. De facto, já no século XVIII, ela era identificada no Douro, nas Beiras e na Estremadura, Castelo Branco e Guarda. Internacionalmente, também viajou bastante, encontrando-se classificada na Austrália, Nova Zelândia, Califórnia e África do Sul. Por cá, tendo tido maior expansão no Ribatejo, continua com uma tendência crescente em todo o território nacional, tendo maior apetência qualitativa em solos profundos, bem drenados e, principalmente, arenosos.
Mas, de onde vem então toda a polémica? Com grande intensidade aromática, quando bem explorada permite criar vinhos bem singulares, possuidores de boa estrutura e personalidade. Mas, porque “não há bela sem senão”, perde com facilidade a acidez e, com isso, os vinhos tornam-se aborrecidos, madurões, com aromas pesados e enorme tendência oxidativa. Pessoalmente, também eu me afastava imenso dos vinhos elaborados a partir desta casta, até ter conhecido os “Avô Fausto”, da Quinta das Bágeiras. E de que forma se transfigura a Maria Gomes nos vinhos de Mário Sérgio, de modo a torná-los extremamente atraentes?Provavelmente um conhecimento de 3 gerações com saberes partilhados de pais para filhos e que encontraram o Santo Graal na forma de produção e vindima da uva, que faz toda a diferença: a escolha do solo adequado à sua plantação e, sobretudo, a antecipação da vindima, de modo a preservar-lhe uma acidez bastante elevada. O resultado, esse é soberbo!
Com uma cor amarelo limão, límpida e brilhante, no aroma remete-nos para a frescura da tangerina, o floral da laranjeira, uma percepção mineral inédita na Maria Gomes e uma ligeira nota fumada. De realçar que aqueles traços do excesso de maturação e oxidação, aqui são ausentes. Mas é na boca que a revolução se encontra, numa acidez pungente, intensa frescura, tudo numa combinação perfeita, harmoniosa e elegante, terminando em força com persistência e final de boca marcante. Os seus 13,0 % de teor alcoólico nunca são perceptíveis, o que é notável, e as suas características tornam-no, provavelmente, o melhor Maria Gomes estreme do mercado nacional.