Carlos Campolargo é um produtor experimentalista, desafiador e, muitas vezes, polémico. As suas opções enológicas são muitas vezes contestadas, contudo, no copo, acabamos por amá-las.

A sua última experiência, um espumante de Trincadeira estreme, é, sobretudo, o colocar em prática de uma tese que pretende colocar a casta no topo das castas nacionais aptas à espumantização, ou, de forma ainda mais radical, nomeá-la como a melhor casta nacional para a criação de vinhos com segunda fermentação em garrafa, o denominado método clássico ou champanhês. E porquê a Trincadeira da Bairrada? Bom, a pedra de toque para defender a tese sustenta-se na acidez da uva, que lhe trará um garante de longevidade e frescura.

Não sei se a tese saiu vencedora, no entanto, estamos perante um belíssimo espumante que só uma guarda durante alguns (muitos) anos nos confirmará se vingará.

Para comprovar a tese, foi aberto o TRINCADEIRA, casta que no território nacional também é chamada de Periquita ou Castelão Francês. De reduzido teor alcóolico – 11,0% – é na acidez que revela ao que vem. Apresentando um teor de acidez superior a 6 g/l, este espumante de 2014 mostra, após mais de 44 meses de estágio, uma juventude, frescura  e sinais de que o tempo não passou por ele. No nariz já  mostra suculência, notas de maçã, geleia, e com apenas um ligeiro fumado que o longo tempo de estágio usualmente confere aos espumantes. Na boca, mostra toda a sua raça, com uma acidez e frescura impositivas, mas sem agressividade. É completo, diferente e, sobretudo, mostra um enorme potencial de envelhecimento sem perder as suas potencialidades. Só foram produzidas 300 garrafas e será vendido a um preço médio de 80,00 €, numa caixa de edição especial.